Ela sabia que a chegada daquele homem em sua casa naquela noite de silêncio estrelado não era uma coisa banal. Era uma mulher experiente com as coisas do coração. Já tivera dois casamentos e algumas paixões. Umas sem sentido, outras enlouquecedoras. Agora, ali em frente ao homem de terno azul teve receio de sucumbir. Ela sabe que os sentimentos não são eternos, mas estava órfã de carinhos. E ele ali, na sua frente, com aquele olhar arrebatador fazia salivar seus sentidos. Não poderia ser assim. Ele deveria chegar devagarinho, atento a todos os detalhes. Uma pessoa não pode invadir uma vida de maneira desatenta. Tem que ter cuidado, delicadeza, cautela. Passar da soleira da porta é algo mais grave. Exige precaução, cumplicidade, admiração. Conhecer sua intimidade é ocupar outros espaços que nem sempre estão vazios completamente. Mas ela, inadvertidamente foi permitindo que ele fosse abrindo gavetas e janelas. Pouco depois, eles já estavam no jardim conversando como velhos conhecidos. E como ela havia pressentido, esse encontro não seria em vão. As mulheres sabem das coisas, reconhecem um olhar perturbador, uma palavra que toca a alma e mexe com os sentidos. Tarde demais. Não tem como retroceder. E se ela olhasse em volta perceberia o vento balançando os galhos das árvores numa cumplicidade latejante.
quinta-feira, 9 de maio de 2013
segunda-feira, 6 de maio de 2013
NO LIMITE
NO LIMITE
Não é novidade para ninguém que a educação está um caos. Nossas
escolas estão carentes de recursos, de funcionários, de professores, de
carinho, de atenção e de respeito. Os trabalhadores em educação estão
desmotivados. Diariamente somatizamos decepções. Fomos
colocados em uma condição de vulnerabilidade tão gigantesca que ficamos
expostos a humilhações permanentes. O desânimo está tomando conta de nós.
Estamos cansados de repetir sempre as mesmas falas e não encontrarmos eco. O
descaso com que a educação está sendo tratada, a falta de comprometimento dos
nossos governantes, o constante desafio de ensinar adolescentes sem limites, a
necessidade de sabermos lidar com todas as mazelas sociais que de uma forma ou
de outra acabam na escola está fazendo com que os professores adoeçam. E como
se não bastasse, ainda somos responsabilizados pelo fracasso dos nossos
alunos. A falta de perspectiva caminha ao nosso lado; estamos
asfixiados e respirando por aparelhos. E, ao contrário de muitas outras profissões, quando
fazemos greves ou paralisações, temos que recuperar em algum momento as aulas
não ministradas. A sociedade nos cobra, a família nos cobra, o aluno nos cobra.
Sempre temos que trabalhar com recursos parcos.
Não podemos pedir a colaboração da família para a compra de material
didático sob pena de sermos denunciados. Temos que ser professores, psicólogos,
orientadores, pais, amigos, enfermeiros Quando um aluno não consegue progredir
nos estudos, nossa capacidade profissional é questionada. Apesar de todas essas
questões, continuamos educadores e amamos o que fazemos. Nosso salário ridículo
não nos impede de sermos competentes. O que precisamos agora é muito mais do
que o piso nacional, é respeito e consideração que já estão virando peças
perdidas de um quebra-cabeça. Os professores também estão pedindo socorro, pois
ser desprestigiado, nem os próprios imbecis merecem.
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