sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O PODER DO SALTO

Sou deslumbrada por saltos altos desde pequena. Não é à toa. Nasci em uma noite de carnaval, quando beldades com suas fantasias faustosas desfilavam na avenida. E toda aquela pomposidade lá instalada clamava por saltos generosos. Não consigo imaginar uma rainha de bateria usando rasteirinha. Seria muito aborrecido. Também não acredito que Cinderela fisgou o seu príncipe encantado pela cor de seus olhos. Foi o sapatinho de cristal salto 15 que fez o príncipe bater de porta em porta a procura da dona. Homens e mulheres usam saltos desde há muito tempo. Reza a lenda que na Idade Média os sapatos com solado de madeira tinham a finalidade de afastar os pés da sujeira das ruas. Os açougueiros do antigo Egito usavam saltos para se protegerem do sangue dos animais. Até então, esse tipo de calçado não era visto como fetiche, mas sim como necessidade. Com o teatro grego e romano, o salto começou a indicar status social. Os atores calçavam sandálias de plataforma, e quanto mais alta, mais importante era o personagem. Lindo de se ver eram as cortesãs chinesas com seus tamancos de 30 cm de altura provocando nos homens os mais inconfessos desejos. Uma lei promulgada pelo parlamento inglês do século XV decretava: “Toda mulher que seduzir um homem para que ele se case com ela utilizando-se de sapatos de salto alto, será castigada com as penas de bruxaria”. Quem prefere calçados baixos que me perdoe, mas o imaginário social possui uma estreita relação de sedução com o salto alto. Haja vista a expressão “sobe no salto, amiga” quando uma mulher precisa mostrar atitude. Há milênios, o salto faz a cabeça e os pés de muitas mulheres e de homens também. Freud, conhecedor da alma humana, afirmou que as mulheres não imaginam o poder de sedução e controle que o salto provoca nos homens. Embora considerado para muitos como um desperdício burguês, esse artifício carrega o nosso estado de espírito e transforma o visual, valorizando até um jeans surrado. Considero-o uma peça indispensável, para não dizer a mais importante do guarda-roupa de toda mulher. Podemos até não usá-los todos os dias, mas sempre que quisermos marcar presença em algum acontecimento, lançamos mão do que se tornou o ícone do imaginário feminino, um bom salto alto.
Ângela Maria Lorenzoni Sauthier – Fevereiro/2016