sexta-feira, 15 de agosto de 2014

SÍNDROME DO NINHO VAZIO

Minha filha vai embora. Formou-se e agora vai continuar seus estudos em Porto Alegre. O dia está chegando, suas malas estão prontas, seu apartamento já está mobiliado e eu vou ficar a ver navios, longe da sua presença, da desorganização do seu quarto, da alegria da sua companhia, das suas reclamações diárias. Ela cresceu e eu não percebi. Ela tornou-se uma mulher exuberante e eu não notei. Ela é agora uma profissional competente e eu não vi isso acontecer. Uma nova etapa em sua vida se inicia. Os povos da antiguidade mantinham a tradição de celebrar todas as coisas fundamentais da vida. Isso deveria ser motivo de celebração também. E ela está sendo mais uma vez desafiada. Desta vez sozinha, longe da família, dos irmãos, dos amigos. A casa vai ficar vazia. Também vai ficar mais organizada, eu sei. Vou sentir falta das suas bagunças. Dos copos sujos na pia, das xícaras de café esparramadas pela casa. Não vou mais precisar procurar minhas maquiagens, meus brincos, meus livros, minhas meias. Em compensação não vou ouvir sua vozinha doce quando precisa de mim ou seus gritos ensurdecedores quando está estressada. Pessoas intensas deixam espaços imensos. Conhecem a boniteza e a certeza de fazerem a escolha certa. A vida nos prepara armadilhas ardilosas. Quem está sentindo-se perdida sou eu. Nunca me disseram que um dia ela não dependeria mais de mim, nem dos meus conselhos. Ninguém me avisou que ela resolveria seus problemas sozinha, que escolheria as roupas para ir às festas e a bolsa que melhor combinaria. Que minha opinião não seria mais tão relevante. Já não falamos a mesma língua. Ela está indo viver sua própria vida. Vai tomar suas decisões, escolher seus caminhos. Sempre queremos o melhor para nossos filhos, que eles sejam no mínimo felizes. Para isso lutamos intensamente. A independência deles os torna disponíveis para viver a vida da forma que quiserem sem precisar negociar a felicidade deles com ninguém. Mas assim, de repente, tão cedo? Ainda não criaram um manual de instruções para que as mães aprendam a não sentir saudades. Se o ritual da vida é esse, deveríamos estar preparados. Eles crescem, criam asas, e voam. E nós ficamos vivendo de lembranças. Ainda bem que existe o celular, o Skype, o Instagram. Ainda bem que Porto Alegre não é tão longe assim. Ainda bem que tenho folga na segunda-feira. Agosto/2014

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