Ela
sempre se orgulhou de seus cabelos pretos e virgens de tintura. Surpreendentemente
decidiu ficar loira e para isso se trancafiou num salão de beleza por sete
horas ressurgindo como uma nova mulher. Estranhei a princípio. Afinal, foi de
um radicalismo generoso. Devia ter suas razões.
A cumplicidade da mulher com seu cabelo é
histórica. Sabemos que ele está associado a nossa capacidade de atração e
sedução. É como se fosse uma carta escondida na manga que podemos tirar toda
vez que quisermos mudar. Podemos ser várias,
uma a cada mês. Somos capazes de gastar muito tempo e dinheiro com nosso cabelo
sem reclamar; cortes, tinturas, hidratações, progressivas, definitivas, enfim.
Durante a ocupação
nazista na França, as francesas que demonstravam simpatia pelos alemães tinham
como castigo suas cabeças raspadas. Era a forma mais eficaz de humilhá-las. O cabelo é tão fundamental que passou a individualizar a
mulher. Identificamos a loira de cabelos longos, a ruiva de franja, a morena da
trança, a do cabelo curtinho, a do cabelo multicolorido e tantas outras caracterizações
que têm sempre o cabelo como protagonista. Eles são eternamente cortados,
alisados, soltos, remexidos, presos e pintados de todos os matizes. Quando uma
mulher diz que vai mudar de vida, a primeira mudança é no cabelo. O poder de
transformação é latejante, toca a alma
feminina. Ao mexer no cabelo, a mulher
está enviando sinais para os que estão em volta. Muitas vezes são sinais
diabólicos, provocadores, arrogantes. E
os homens reconhecem tais sinais, mas nem sempre os interpretam corretamente.
Naquele dia, a morena num ato de extrema
rebeldia ficou despudoradamente loira. Tirou a carta da manga, mudou sua vida,
sua alma. Tinha suas razões.