domingo, 9 de junho de 2013

SUA MAJESTADE O CABELO

        

   Ela sempre se orgulhou de seus cabelos pretos e virgens de tintura. Surpreendentemente decidiu ficar loira e para isso se trancafiou num salão de beleza por sete horas ressurgindo como uma nova mulher. Estranhei a princípio. Afinal, foi de um radicalismo generoso. Devia ter suas razões.
    A cumplicidade da mulher com seu cabelo é histórica. Sabemos que ele está associado a nossa capacidade de atração e sedução. É como se fosse uma carta escondida na manga que podemos tirar toda vez que quisermos mudar.  Podemos ser várias, uma a cada mês. Somos capazes de gastar muito tempo e dinheiro com nosso cabelo sem reclamar; cortes, tinturas, hidratações, progressivas, definitivas, enfim.  
 Durante a ocupação nazista na França, as francesas que demonstravam simpatia pelos alemães tinham como castigo suas cabeças raspadas. Era a forma mais eficaz de humilhá-las. O cabelo é tão fundamental que passou a individualizar a mulher. Identificamos a loira de cabelos longos, a ruiva de franja, a morena da trança, a do cabelo curtinho, a do cabelo multicolorido e tantas outras caracterizações que têm sempre o cabelo como protagonista. Eles são eternamente cortados, alisados, soltos, remexidos, presos e pintados de todos os matizes. Quando uma mulher diz que vai mudar de vida, a primeira mudança é no cabelo. O poder de transformação é latejante,  toca a alma feminina.  Ao mexer no cabelo, a mulher está enviando sinais para os que estão em volta. Muitas vezes são sinais diabólicos, provocadores, arrogantes.  E os homens reconhecem tais sinais, mas nem sempre os interpretam corretamente.
        Naquele dia, a morena num ato de extrema rebeldia ficou despudoradamente loira. Tirou a carta da manga, mudou sua vida, sua alma. Tinha suas razões.