Um artigo escrito
por um empresário e publicado no Diário de Santa Maria neste final de semana me
emocionou bastante. Tentei lê-lo em voz alta para minha filha, mas não consegui
porque as lágrimas me impediram de ver as palavras. Uma pedagoga de Santa
Catarina adotou uma criança com Síndrome de Down, portadora de uma cardiopatia
congênita e lesão neuronal grave. A mãe adotiva ficou com a guarda provisória
durante 11 meses sendo que a menina veio a falecer com 16 meses sem que o processo
de adoção tivesse sido concluído. Essa mãe, com sua dor jorrando com toda
intensidade, pediu ao juiz que lhe concedesse o direito de registrar essa
criança, pois queria amá-la e lembrá-la mesmo após a sua morte. O Juiz, tomado
talvez por uma grande comoção, formalizou o primeiro caso de adoção “post
mortem” no Brasil. E a sentença que ele proferiu “Reconheça-se então este amor
da adotante, dando-lhe o alento que lhe resta, a saudade de uma filha que era,
sim, sua e uma história que deve ser lembrada como um verdadeiro exemplo de
adoção e amor incondicional, nem que seja nesta sentença.” contraria o
entendimento que muitos de nós leigos temos de que os juízes são pessoas frias
e que lhes compete apenas aplicar a lei.
Penso que o meu choro tenha acontecido porque li
o artigo na véspera do dia das mães e todas nós ficamos mais sensíveis nessa
data. Ou talvez porque eu também seja mãe de um filho especial e saiba o quanto
eles modificam nossas vidas. A verdade é que ao tomar conhecimento do fato eu
percebi que a humanidade, apesar de estar numa constante corrida pelo ter, pelo
parecer, pelo construir, ainda tem um coração que pulsa forte. Existem anjos espalhados pelo mundo. Anjos
como essa mãe adotiva que abraçou essa criança e dedicou a ela um carinho
supremo, apesar de todas as limitações que a filha trazia consigo. O pedido ao
magistrado se configurou em um amor ressurgido da dor em toda sua plenitude.
Existem anjos como esse juiz, que usando de uma percepção extremamente aguçada,
entendeu toda a angústia que essa mãe trazia na alma e tentou abrandá-la da
forma que podia. Sim, senhor juiz, a filha era dela e Vossa Excelência foi
muito feliz ao formalizar isso. E essa
história não vai ser apenas lembrada nesta sentença, mas vai ficar na memória
de todos que dela tomarem conhecimento. Minha admiração e respeito a essa mãe. Sinto-me insignificante frente a pessoas como
ela.