quinta-feira, 3 de setembro de 2015

LOUCOS DE ATAR

Todos carregamos uma cota de ranço diário. Algumas pessoas são azedas eventualmente, outras, sempre. Contrariedades fazem parte da vida. Tenho uma amiga que não fala com ninguém antes do meio dia. Se falar, sua metralhadora giratória entra em ação. Melhor não puxar assunto. O pior da pessoa mal-humorada é sua instabilidade. Nunca sabemos como chegar nela, sua reação é sempre uma surpresa. Existem transtorno de humor, estabilizador de humor, mas não inventaram ainda um aparelho para medir o mau-humor de alguém. Esse instrumento, a meu ver, teria uma grande utilidade, ainda mais se viesse acompanhado por uma tabela que assinalasse o limite máximo de mau-humor permitido para que um filho de Deus pudesse sair de casa. Se ultrapassasse o limite, que ficasse olhando televisão, dormindo ou provocando o cachorro. Entendo que a vida aqui na Terra, definitivamente, não está para brincadeira e é bem normal termos contratempos de toda ordem. Porém, temos que selecionar nossos problemas, como diz o poeta, é preciso saber viver. Mas, convenhamos! Existem pessoas que beiram a paranoia. Os alienados mentais estão mais próximos da gente do que pensamos. Andam na mesma calçada, trabalham no mesmo emprego, convivem no mesmo ambiente e às vezes até dormem na nossa cama! Quando tudo parece estar na santa paz, a pessoa surta! E a gente fica em estado de choque, com cara de paisagem, sem saber o que fazer, o que pensar, tomando cuidado para não perder a compostura e descer do salto. O provérbio português – de gênio e louco, todos temos um pouco – absolve em parte alguns chiliques, mas, de qualquer forma, eu prefiro lidar com os loucos tratados. É mais seguro. A bela Cleópatra usou sua loucura de forma genial; lançou mão de uma armadilha poderosa e perturbadora no seu primeiro encontro com Júlio César. Chegou ao palácio nos ombros de seu criado Apolodoro enrolada num tapete. Diante do imperador, o siciliano desenrola o tapete e de dentro sai Cleópatra nua e bela com seus cabelos despenteados, com a pele morena do sol do Egito e oferece-se a César. Esse ato de loucura fez com que um dos homens mais poderosos do mundo beijasse seus pés. César ficou encantado e totalmente dominado. Não é por acaso que ela foi uma das maiores mulheres da história da humanidade, apesar de ter apenas um metro e sessenta de altura. Se é para ser louco, tem que ser pra valer. Nada de perpetuar traumas de infância, dramas familiares ou questões econômicas para justificar atitudes insanas. Que sem graça! Por qual motivo algumas pessoas teimam em transgredir regras de convivência sadia? Vale a pena? Beneficia alguém? Não tem nenhum glamour nisso. Ou use a loucura a seu favor, ou vá num psiquiatra, faça um tratamento e controle seus delírios. E nos outros dias acione seu azedume moderadamente. ÂNGELA LORENZONI SAUTHIER AGOSTO/2015