quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

EMAGRECER É PRECISO

Toda mulher precisa perder peso. Vinte, sete, cinco, dois quilos. Às vezes, duzentos gramas. Mas é preciso. Ficarmos sempre magras está gravado no nosso DNA. Desesperadamente. Alucinadamente. Caso contrário, poderemos nos trancafiar em um quarto escuro para sempre sem desejar ver a luz do sol e, principalmente, não ser vista por ninguém. Estar um quilo acima do peso influencia dramaticamente no bem estar de qualquer filha de Deus. Somos independentes, confiantes, resolvidas, no entanto os padrões de beleza aninham-se em nossas mentes provocativos e desafiadores fazendo com que nos tornemos cúmplices de modelos preconcebidos que privilegiam algumas e discriminam outras. É uma ciranda de cores, formas e texturas que nos escraviza ao ponto de fazer da balança um regulador do nosso humor. Olha que não estou exagerando, não. A cultura lipofóbica que se instaurou na nossa sociedade, se disseminou com muito rigor e fez com que rompêssemos com o nosso limite de bom senso. Essas regras estéticas impostas foram instituídas como condição para a integração das mulheres em qualquer setor da sociedade. Somente as magras e esbeltas são bonitas e admiradas. Embora saibamos que o número de pessoas que possuem essas características é bem reduzido, não nos incomodamos em fazermos parte dessa tirania. Inúmeras vezes sentindo-nos como carne no açougue - esta tem muito osso, esta tem muita gordura-. A própria indústria do vestuário discrimina as mais bem dotados de curvas fabricando modelagens minúsculas e sumárias. Eis um impasse: como eu sou fisicamente e como a sociedade quer que eu seja. É um drama existencial. Ironicamente, uma adolescente da cidade de Canguçu, que ficou conhecida no país pela sua irreverência estética, pisoteou esses padrões de beleza implantados pela modernidade. Amassou-os. Triturou-os. Tudo por um sonho: participar do Garota Verão. E foi. E venceu. Venceu seu medo de não se enquadrar no conceito de formosura. De fazer feio frente aos olhos dos ditadores da beleza. A mídia divulgou sua audácia. Sua atitude deve ter sido considerada um atrevimento para os que satirizam a fragilidade do outro. No entanto, o aplauso do público presente mostrou que a beleza tem várias faces. Amar-se é bonito, sentir-se bem independente do peso é bonito, ter dignidade é bonito. Que muitas Vanessas surjam em Canguçu e no mundo todo para ajudar a desconstruir esse estereótipo de beleza que massacra as mulheres. Além do que, a beleza só importa nos primeiros quinze minutos. Já o caráter, esse não pode ser camuflado. Ângela Sauthier/ Fevereiro de 2015