quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

ALÇANDO VOOS

Parece que foi ontem que seu choro ecoou na maternidade. Não foi um simples choro, foi um aviso: Cheguei! Parece que foi ontem que ela entrou no elevador deixando-me para trás. Subiu sozinha doze andares. Sentindo-se perdida e não sabendo como voltar pelo mesmo elevador, desceu pela escadaria arrastando uma caixa de boneca que tinha ganho minutos antes. A boneca era maior que ela. E eu, no térreo, confabulando com o zelador e tendo aqueles chiliques que toda mãe tem quando sente o filho em perigo. Ela era pouco mais que um bebê. Parece que foi ontem que a levei pela primeira vez na escola. Seu avental xadrez de laranja e branco tinha um leão enorme bordado no bolso, símbolo dos Irmãos Maristas. Usava sempre um rabo de cavalo, pois seus cabelos encaracolados não se acomodavam de outra forma. Na primeira semana fui seu anjo da guarda. Na segunda, dispensou minha companhia. Desafiadoramente, passou pelo portão do colégio carregando sua mochila cor de rosa, desceu um lance de escadas, atravessou o pátio, subiu mais dois lances até chegar ofegante nas salas da pré-escola. Com um ar de vitória, cumprimentou seus coleguinhas. Ela tinha pouco mais que quatro anos. Parece que foi ontem que ela trocava as brincadeiras do recreio para ficar na livroteca em busca dos contos de fada. Todo dia chegava em casa com um novo livro. No final de cada trimestre eu buscava seu boletim e voltava carregada de elogios e notas altas. Ela tinha pouco mais que nove anos. Parece que foi ontem que ela começou a ir à escola de ônibus sozinha, provocando espanto nas mães de suas coleguinhas. Como impedi-la se era sua vontade. Parece que foi ontem que ela resolveu fazer o Ensino Médio em outro colégio. Decidida, determinada, confiante, mesmo sabendo que deixaria para trás suas melhores amigas. Já tinha traçado uma meta e não queria perder tempo. Ela tinha pouco mais que doze anos. Parece que foi ontem que ela fez vestibular. Com seu sorriso metálico, acertou em cheio. Era tudo o que ela queria. Não perdeu tempo. Investiu tempo, energia e horas de sono no seu curso. Sua trajetória na faculdade foi brilhante. Faltam poucos dias para sua formatura. Minha menina de ontem é hoje uma mulher, uma profissional. Culta, comprometida, responsável e muito linda. Nunca neguei que sou mãe coruja. Minha menina abriu as asas. Missão cumprida. Dezembro/2013