domingo, 8 de setembro de 2013

DIALOGANDO COM OUTROS TEMPOS

Não sou exatamente uma mulher nostálgica. Ou pelo menos não era até então. Percebi, no entanto que ultimamente tenho escrito muito sobre o passado. Sinto saudade de tantas coisas! Lembranças boas de tempos bons e de outros nem tão bons assim. Dentre as recordações, hoje, inesperadamente, meu primeiro namorado surgiu na minha mente. Com os mesmos olhos profundamente verdes e seu jeito macio de falar. Foi uma paixão adolescentemente doce, daquelas que pensamos serem definitivas em nossas vidas. Na adolescência acreditamos que as pessoas são insubstituíveis. Principalmente os amores. Talvez porque milhares de hormônios circulam em nosso corpo com voracidade criando desejos incontidos, noites de sobressalto, sonhos estranhos, ansiedade e uma imensa necessidade de experimentar situações desconhecidas. Mas éramos bem contidas. Sabíamos o que era e o que não era permitido. A maior intimidade que eu e meu namorado tivemos foi andar de mãos dadas na saída do colégio. Era o namoro inocente da época. E nada acontecia sem a autorização do pai, senhor feudal, que decidia em quais dias o rapaz poderia frequentar a casa e com a sua devida autorização. Quanta pureza e mistério havia nos romances de outras épocas. Como era previsível o desenrolar dessas relações amorosas: namorar, noivar e casar. Circunstancialmente, alguma menina menos informada ou mais afoita, pulava uma etapa e casava com o vestido de noiva muito justo para que a barriga não aparecesse. Eram exceções, pois normalmente as mulheres mantinham seus himens intactos até a lua de mel. Teoricamente, o sexo era para nós mulheres, um grande enigma somente desvendado após o casamento e não raras vezes, com dor, sangue e traumas. É necessário explicar para os jovens de hoje que lua de mel era assim denominada a viagem que os noivos faziam logo após a festa do casamento. Nessa ocasião, o casal tinha a intimidade tão prometida e a noiva ser deflorada fazia parte do pacote. E esse acontecimento de poético só tinha a chuva, quando chovia. Sexo, não era o mais importante, pelos menos para nós mulheres. Ser virgem era importante. Esse pequeno detalhe criava rótulos gigantescos. Lembro que na noite do meu casamento, minha mãe, num gesto confidencial me alertou que daquele dia em diante eu deveria estar disponível a meu marido. Era uma das obrigações de esposa. Hoje isso seria considerado uma insanidade. Aceito sem reservas que fui muitas vezes transgressora, por isso minha rebeldia se manifestava nessas ocasiões. Eu não poderia aceitar que me roubassem a alma. Rebelava-me contra certas regras que me pareciam absurdas, machistas e ignorantes. Talvez tenha nascido fora da época. Meu tempo deveria ter sido outro. Meu primeiro namorado? Não casei com ele. E nunca mais o vi! Setembro/2013