domingo, 17 de março de 2013

PROFISSÃO: PROFESSORA



                                    
                    Todos os anos eu me preparo para a chegada do mês de março. Cada início de ano letivo é uma surpresa. É como fazer uma viagem a um país estranho. Em janeiro e fevereiro fico arrumando as malas para em março embarcar. Procuro tomar algumas precauções como não esquecer o passaporte, chegar ao aeroporto no horário previsto, levar alguma roupa mais leve ou mais pesada para não ser pega de surpresa.  Sempre viajo com aquele friozinho na barriga e com uma vontade enorme de conhecer lugares diferentes.  A escola é meu destino. Embora seja a mesma, cada novo ano sempre é diferente.
        Quem trabalha com adolescentes sabe que o coração deve estar aberto a mudanças. É uma constante renovação.  Esse é o lado bom das viagens. Também é o lado bom de transitar o ano todo entre Anas, Patis, Cristians, Andersons, Biancas, uma dúzia de Fernandas, três de Pedros que chegam cada vez mais inquietos, cheios de curiosidade, carregados de fragilidade e com a pele mais bronzeada.   A rebeldia, as mochilas coloridas, os tênis muito parecidos, os beijos estalados, as tentativas de me dominarem com suas carinhas bem desenhadas, os sorrisos largos, tudo me fascina.  Quando o sinal anuncia o início do primeiro período, um verdadeiro tsunami invade os corredores do colégio e se distribui pelas salas de aula. E haja fôlego para sustentar tudo isso.
        A escola pode ter os seus defeitos, e neste Brasil descuidado, ela geralmente deixa a desejar. Porém, ainda cabe a essa instituição ensinar valores éticos essenciais para que os alunos vivam bem em sociedade. Crianças e adolescentes são muito observadores, por isso não há nada mais desafiador do que orientar gente dessa faixa etária. Sei que tenho que ser, antes de tudo, modelo para eles.   E um bom modelo.  Tenho que saber administrar as transgressões próprias de sua geração, ficar sempre em sintonia com suas angústias e medos e, acima de tudo, estar com a alma exposta. Caso contrário nada funciona. Por isso, todo início de ano me preparo. Quero chegar como um viajante que mesmo vindo de longe, fala a língua deles.