sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

NINGUÉM É DONO DE NINGUÉM

Entre outras coisas, gosto de escrever. Nas minhas horas vagas, que não são muitas, eu escrevo. Pensando bem, minhas horas vagas são poucas. Além do trabalho, tenho filhos, marido, psiquiatra, minhas caminhadas e reuniões com as amigas. Também passo um bom tempo no computador e no telefone. Eu tenho uma relação meio esquizofrênica com o tempo. Faço muitas coisas simultaneamente. Além de tempo, talvez me falte talento. Como já não vejo mais sentido em agradar a todos, eu sigo escrevendo. Sobre pessoas, amores, desencantos, sentimentos.O cardápio é farto. E hoje, uma amiga é um prato cheio. Ela não, talvez o drama que ela está vivenciando. Sei que tocar na dor do outro exige cautela, mas preciso iniciar dizendo que ninguém merece ser traído. Traição é coisa do diabo. Nós merecemos carinho, flores, bombons. E cinemas. E telefonemas durante a tarde. E sentir ciúme. E sentir saudade. Ser enganado é absolutamente aterrorizante para qualquer um. Isso desperta nossos medos mais primitivos, de impotência, de solidão, de desamor. Lembro-me de uma vizinha dos meus tempos de criança. Era apaixonada pelo marido. E este tinha mais duas namoradas. Ela fingia não saber e nem queria pensar no assunto. Na sua concepção medíocre, a esposa era ela, a primeira, a principal, a legítima. E ele, afinal de contas, era homem. Mas isso faz muito tempo. Quero acreditar que não existam mais mulheres assim! Pelo menos não aqui no Rio Grande, ou em Santa Maria, ou quem sabe no meu prédio... Agora está tudo mudado. A presunção de que a traição masculina é algo natural já caiu no ridículo. Hoje a tirania da sedução anda solta pelo mundo e tem um grupo de portadoras dos cromossomos xx que estão prontas para o que der e vier. Por isso, a infidelidade é sempre uma possibilidade a ser considerada. Minha amiga não é nenhuma ingênua. Ela sabe que compatibilidade plena é delírio, e que atrapalhos e desentendimentos abrem brechas para alguém sucumbir a uma aventura. São assim as relações amorosas. E todas têm o ônus e o bônus. De qualquer forma é sempre triste o fim de uma relação. É quase uma morte. Morte penosa quando tem uma terceira pessoa envolvida. Traição é coisa do diabo. Janeiro/2014