Não morro de
amores por academias. Apesar de saber da importância do exercício físico para o
corpo e a mente, não me acostumo com a frieza e a monotonia desses lugares. Lá
nada mais vejo do que pessoas distantes,
caladas e solitárias imersas em seus pensamentos, além de uma música
ensurdecedora e alguns televisores ligados. Sem mencionar os desfiles de calças
quase transparentes de tão justas, tênis importados, bundas, coxas e músculos.
Tentei me adaptar. Iniciei três ou
quatro vezes sem sucesso. Confesso, me dá dor de cabeça. Esse mundo não me
pertence.
Preciso de liberdade, por isso gosto de
ambientes abertos. Não suporto a ideia de ser mais um soldado uniformizado
marchando no mesmo ritmo dos outros. Por isso troquei a academia por caminhadas
ao ar livre. Gosto do barulho do vento, do sol na pele, das árvores, do cheiro
da terra, de gente falando com entusiasmo e, se não for pedir muito, ouvir o
canto dos passarinhos.
Como é agradável
depois de um dia de trabalho desgastante- o trabalho muitas vezes dá um nó na
nossa cabeça- vestir um abrigo surrado, calçar um tênis confortável (não precisa
ser importado) e caminhar sem rumo na companhia da melhor amiga. Fugir do
burburinho das salas de aula, afastar-se por um tempo das leituras pesadas, das
pesquisas rotineiras, esquecer por uma hora que temos filhos, marido,
secretária e cachorro esperando pela gente, falar banalidades, rir de qualquer
coisa e absorver os encantos que a natureza teima em nos oferecer é bom demais.
Esses pequenos grandes momentos fazem a gente resgatar a paz e a condição
física sem ser preciso assinar o ponto nos lugares badalados e nos submeter aos
modismos da pós-modernidade. O nosso corpo agradece.
Às vezes é necessário rechaçar a condição
de sermos máquinas obedientes de um perverso sistema que nos aprisiona para
podermos ver nas pequenas coisas, encantos que nos emocionam. O nada está cheio de vida, basta saber
observar.