sábado, 19 de setembro de 2015

AMOR GUAPO


Não me julguem bobalhona a ponto de acreditar que vão conseguir destruir meu Rio Grande. Sempre fomos um povo valente. Nunca nos acovardamos. Parem de dizer que a Guerra dos Farrapos foi uma mentira, que não teve um ideal republicano. Se foi uma luta iniciada por estancieiros insatisfeitos com os altos impostos cobrados pelo governo imperial, se houve massacre, se os negros continuaram ainda sendo escravizados, se não houve vencedores, e sim um acordo de paz, eu até aceito. Mas nada disso invalida o esplendor de um povo que não aceitou quieto ser manobrado por uma minoria dominadora. Não apaga a virtude de uma gente que, historicamente, defendeu com sangue suas fronteiras contra as investidas castelhanas. A ideia de que a Revolução Farroupilha foi um mito criado pelos gaúchos devido a carência de identidade de seu povo é de interesse de quem? Essas pessoas ignoram que a nossa identidade está no nosso modo de falar, de vestir, de dançar? Que está no nosso canto triste, na reza para o negrinho do pastoreio, na nossa comida, no nosso chimarrão? Não sabem que está nas nossas sangas fundas, no abraço apertado, nas coxilhas, nas crenças, nas nossas histórias? Nossa identidade está na consciência de participação na delimitação do nosso estado. Nossa identidade está na nossa literatura, com o mito de Ana Terra e Rodrigo Cambará, com a figura do vaqueano Blau Nunes dos contos de Simões Lopes Neto. Nossa identidade está na nossa alma. No entanto, mais do que nunca, os governantes estão ultrajando o povo do pampa, humilhando nossa gente, achincalhando nosso estado como se não tivéssemos história, espírito guerreiro, e nem soubéssemos domar gado xucro. Sou suficientemente gaúcha para acreditar que, assim como da outra vez, sairemos dessa de peito estufado, servindo de modelo a toda Terra. Ângela Lorenzoni Sauthier/ Setembro- 2015