domingo, 30 de junho de 2013

A TRISTEZA PEDE PASSAGEM


     “Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”.... Este verso da música Roda Viva de Chico Buarque de Holanda parece ser a fotografia da alma em decomposição.  Como alguém consegue traduzir em palavras tamanha tristeza?  É um momento de  extrema magia. Desde os tempos de Aristóteles, os melancólicos eram conhecidos como pessoas geniais, pois escreviam, pintavam e compunham admiravelmente.  E justamente nos momentos de maior aflição realizavam suas melhores produções. 
   Somos frágeis, imensamente frágeis. Fugimos das frustrações porque  não sabemos como lidar com elas. As pequenas são mais fáceis de serem contornadas. Uns vão extravasar suas aflições na música, na dança, na escrita, nos medicamentos, no álcool. Seria tão simples se entendêssemos que nem todos os nossos desejos podem ser satisfeitos e que as frustrações são parte inerente da vida adulta. No entanto, perdemos muito tempo procurando culpados para os nossos fracassos.
    A excessiva sensibilidade e a incapacidade de suportar momentos de tristeza é uma porta aberta para o sofrimento. Viramos as costas para a dor, principalmente a dor na alma.  No entanto sentir tristeza é inevitável. Todos nós em algum momento da vida passaremos pelo estado de abatimento, melancolia, erros, fracassos, dor e angústia.
    Desde que nascemos começamos a sustentar nossas inquietações, nossos desejos inconfessos, algum sofrimento silencioso, outros nem tanto. Com o passar do tempo passaremos a tratar uma decepção como se fosse um sequestro relâmpago que nos assusta inicialmente, mas depois cai no esquecimento.  O tempo é responsável por isso.
 Sentir-se como quem partiu ou morreu é o nada, é o vazio, é a ausência de tudo. É a falta de ânimo, de vigor, de perspectiva, de planos, de sonhos. Como tudo, a tristeza também é passageira. Alguns dias, acordamos com o sol batendo em nossa janela. Outros, nem sentimos vontade de sair da cama. Mesmo assim, maquiamos nosso desalento e seguimos em frente. C'est la vie.