domingo, 14 de abril de 2013

ESCOLHAS LEGÍTIMAS



     O assunto é polêmico, concordo. Também não sei se é o melhor tema para ser abordado em uma noite chuvosa. O fato é que ao ler a declaração de Daniela Mercury na revista Veja de 10 de Abril "Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração para cantar",  meu lado fêmea passou a refletir sobre isso.  Não estou me referindo a uma mirabolante história de amor; estou falando que um dos ícones da Música Popular Brasileira declara publicamente seu amor pela jornalista Malu Verçosa. São duas mulheres charmosas,bonitas, inteligentes, instruídas e até fisicamente parecidas.
     Não sou preconceituosa. Não discrimino ninguém. Nem poderia, afinal Deus me mostrou cedo e tacitamente que ninguém é melhor que ninguém, que somos capazes de  acolher as surpresas que a vida nos reserva e lentamente tirar as pedras do meio do caminho.  Também não separo as pessoas por classe social, raça, cor do cabelo ou marca do carro. Pessoas são pessoas, cada uma com sua singularidade, virtudes e defeitos. 
       Ser feliz no amor é tudo o que queremos. Mas ser feliz no amor não é somente um homem casar com uma mulher, ter meia dúzia filhos e comemorar o aniversário de todos. Existem outras formas de relações amorosas, também verdadeiras e profundas que precisam ser respeitadas. Daniela e sua companheira foram extremamente corajosas ao expor suas intimidades sem sentir culpas ou medo de magoar alguém. Ambas desafiaram a enorme carga de preconceito que circula  entre as pessoas.  Os homofóbicos, naturalmente sentiram-se afrontados, embora nenhum deles traga na sua condição, alguma garantia de felicidade. Ao contrário, percebo neles uma insistente miséria existencial e a utilização de uma forma de exclusão sutil e humilhante provocada quem sabe pela falta de afeto.
     Juntar-se faz parte do ser humano e a família é uma instituição abstrata e passível de mudanças. As questões de gênero já vêm sendo discutidas de outras formas, mas esse fato poderá começar  uma etapa de grandes mudanças. E eu, do conforto da minha heterossexualidade tenho a humildade de admitir que    admiro a maturidade de quem consegue ser transparente o suficiente para mostrar ao mundo sua sensibilidade extremada. Percebo na atitude dessas mulheres o início de um processo de rebeldia sadio. Seria maravilhoso se as pessoas entendessem que ninguém tem controle sobre as emoções dos outros, sobre suas escolhas, sobre seus sentimentos aceitos ou não pela sociedade. O poder transformador do amor, a liberdade de poder escolher quem nos faz bem, o encanto de todos os tipos de encontros é o que o ser humano está merecendo.
     Vida longa ao amor de Daniela e Malu e também a todos os casais homo ou heterossexuais. Independente de sua condição que nunca lhes falte amor e companheirismo. O resto é o resto.