Hoje a Igreja
Católica está dando início ao processo de escolha de seu novo líder. Quando a
fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina e os sinos da Basílica de São
Pedro badalarem, o novo Papa será anunciado. É suntuosidade à beça. Isso me reporta à infância. Estudante das
séries iniciais em um colégio de freiras alemãs, eu vivenciei alguma pompas e
circunstâncias da Igreja. Percebia o encantamento que as irmãs demonstravam
quando o assunto se reportava ao Vaticano. Sem
entender nada sobre a hierarquia da Igreja Católica e, com aqueles olhos de
menininha assustada sentindo-se uma formiguinha frente à imponência de seus
rituais, presenciei momentos de
apreensão e euforia por parte das irmãs
quando da visita de um papa ao Brasil.
E eu participei desse júbilo sem saber o real significado, uma vez que a
severidade com que éramos tratados no colégio não nos permitia escolhas nem
questionamentos. A disciplina era tão rígida que apenas um olhar da madre superiora
era suficiente para me sentir a maior pecadora do planeta. No silêncio de uma capela esplendorosa no interior
da escola, frente ao altar monumental, com o olhar fixo no sacrário que
continha o cálice com as hóstias consagradas eu pedia perdão pelos meus pecados.
E me arrependia. E rezava. Rezava para que a igreja prosseguisse salvando as
ovelhas desgarradas mencionadas pela madre. Que as livrasse de todo o mal. Lá
naquele luxuoso recinto, eu aprendi que Deus castiga, que o sexo é pecado e que
não assistir à missa todos os domingos é garantir uma cadeira no inferno. E eu,
pobre pecadora de 7 anos de idade,
queria ir para o céu. Arder no fogo do inferno seria muita crueldade. Eu
precisava ser perdoada. E confessava todos os meus pecados. Na minha imaginação
de criança o papa tinha o poder de perdoar. Por isso ele era importante. Por
isso eu o admirava.
Hoje quando leio sobre as barbáries cometidas
pelo clero, o centro de devassidão e roubalheira que se transformou o Vaticano
e o retrocesso em relação à moral e aos bons costumes da Igreja Católica eu me
lembro daquela menininha e sinto o quanto ela era feliz.