terça-feira, 12 de março de 2013

MINHA RELAÇÃO COM O PAPA





       Hoje a Igreja Católica está dando início ao processo de escolha de seu novo líder. Quando a fumaça branca sair da chaminé da Capela Sistina e os sinos da Basílica de São Pedro badalarem, o novo Papa será anunciado. É suntuosidade à beça.  Isso me reporta à infância. Estudante das séries iniciais em um colégio de freiras alemãs, eu vivenciei alguma pompas e circunstâncias da Igreja. Percebia o encantamento que as irmãs demonstravam quando o assunto se reportava ao Vaticano.   Sem entender nada sobre a hierarquia da Igreja Católica e, com aqueles olhos de menininha assustada sentindo-se uma formiguinha frente à imponência de seus rituais,  presenciei momentos de apreensão e euforia por parte das irmãs  quando da visita de um papa ao Brasil.  E eu participei desse júbilo sem saber o real significado, uma vez que a severidade com que éramos tratados no colégio não nos permitia escolhas nem questionamentos. A disciplina era tão rígida que apenas um olhar da madre superiora era suficiente para me sentir a maior pecadora do planeta.  No silêncio de uma capela esplendorosa no interior da escola, frente ao altar monumental, com o olhar fixo no sacrário que continha o cálice com as hóstias consagradas eu pedia perdão pelos meus pecados. E me arrependia. E rezava. Rezava para que a igreja prosseguisse salvando as ovelhas desgarradas mencionadas pela madre. Que as livrasse de todo o mal. Lá naquele luxuoso recinto, eu aprendi que Deus castiga, que o sexo é pecado e que não assistir à missa todos os domingos é garantir uma cadeira no inferno. E eu, pobre pecadora de 7 anos de idade,  queria ir para o céu. Arder no fogo do inferno seria muita crueldade. Eu precisava ser perdoada. E confessava todos os meus pecados. Na minha imaginação de criança o papa tinha o poder de perdoar. Por isso ele era importante. Por isso eu o admirava.
       Hoje quando leio sobre as barbáries cometidas pelo clero, o centro de devassidão e roubalheira que se transformou o Vaticano e o retrocesso em relação à moral e aos bons costumes da Igreja Católica eu me lembro daquela menininha e sinto o quanto ela era feliz.