terça-feira, 22 de dezembro de 2015

PRESENTES DE NATAL

Chegou o Natal. É hora de escolher presentes. Jurei que não vou mais embarcar nas loucuras de final de ano. Correr agoniada da manhã à noite nos dias 22, 23 e 24. Comprar presentes para os filhos, para o marido, para os afilhados, para o amigo secreto, para a faxineira, para a melhor amiga, para a vizinha de porta, para a manicure...  Providenciar o peru, a sobremesa, a farofa, o arroz à grega, o salpicão, as frutas... e quando faltar trinta minutos para servir a mesa, ir para o banho, passar um pente no cabelo e sentar no sofá quase dormindo de tão cansada. Não quero me sentir obrigada a ficar feliz e sorridente na hora da ceia. Quero ser absolvida por não ter tido paciência de colocar as luzes na sacada, nem montado um pinheiro imponente.  A maturidade está me deixando mais exigente com algumas coisas e mais comedida com outras. Decidi não fazer aqueles tradicionais pedidos ao Papai-Noel. Dane-se o Iphone 6s plus na cor ouro rosa com 128GB, as peças de cerâmica pintadas a mão de Istambul, a viagem a Bora Bora para nadar nas águas azul-turquesa. Quero presentes mais deleitosos, como ser menos consumista, por exemplo. Serenidade é outro bom presente. Serenidade suficiente para resolver meus problemas sem ter que achar culpados. É difícil viver num mundo em que a tragédia e o banal aparecem juntos, mas pessoas serenas entendem melhor essas discrepâncias. Quando eu era adolescente, nos momentos em que meu pai me repreendia por algum motivo, eu rebatia suas acusações até deixá-lo tonto. Então ele dizia que eu seria uma ótima advogada. Hoje quero ter equilíbrio para entender que não sou dona da verdade e aceitar a opinião alheia com ponderação.  Se tem algo que me aborrece é a minha teimosia. Desejo que as críticas destruidoras passem longe de mim para não sacolejarem minhas emoções. Aprender a me perdoar também quero. Acredito que seja a melhor maneira de arrancar as raízes da dor de dentro da gente. Se não for pedir demais, gostaria de ser mais humilde e nunca, mas nunca mesmo, deixar a vaidade se aproximar muito. A vaidade é o pecado preferido do diabo. Quero pensar menos. Pensar é coisa muito perigosa e às vezes nos obriga a tomar decisões que não queremos.  Também gostaria de viver uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. O que resta de mim é uma mulher barulhenta que não sabe se comportar, fala o que pensa e paga um alto preço por isso.  Falar o que se pensa nos abre algumas portas e fecha outras. Sou uma mulher com bom gosto, bom senso, que não gosta de dias nublados e ama desafios. Que aplaude algumas rebeldias, mas detesta conchavos de qualquer espécie. Eu já disse, estou ficando meio chata. No momento, procuro a simplicidades das coisas, a essência das pessoas e fujo de olhares que vigiam, punem e criticam.  A curiosidade? Ah, essa está sempre pulsando dentro de mim.

Ângela Sauthier
Dezembro/2015