Chegou o Natal. É hora de escolher presentes. Jurei que não
vou mais embarcar nas loucuras de final de ano. Correr agoniada da manhã à
noite nos dias 22, 23 e 24. Comprar presentes para os filhos, para o marido,
para os afilhados, para o amigo secreto, para a faxineira, para a melhor amiga,
para a vizinha de porta, para a manicure...
Providenciar o peru, a sobremesa, a farofa, o arroz à grega, o salpicão,
as frutas... e quando faltar trinta minutos para servir a mesa, ir para o
banho, passar um pente no cabelo e sentar no sofá quase dormindo de tão
cansada. Não quero me sentir obrigada a ficar feliz e sorridente na hora da
ceia. Quero ser absolvida por não ter tido paciência de colocar as luzes na
sacada, nem montado um pinheiro imponente.
A maturidade está me deixando mais exigente com algumas coisas e mais
comedida com outras. Decidi não fazer aqueles tradicionais pedidos ao
Papai-Noel. Dane-se o Iphone 6s plus na cor ouro rosa com 128GB, as peças de
cerâmica pintadas a mão de Istambul, a viagem a Bora Bora para nadar nas águas
azul-turquesa. Quero presentes mais deleitosos, como ser menos consumista, por
exemplo. Serenidade é outro bom presente. Serenidade suficiente para resolver
meus problemas sem ter que achar culpados. É difícil viver num mundo em que a
tragédia e o banal aparecem juntos, mas pessoas serenas entendem melhor essas
discrepâncias. Quando eu era adolescente, nos momentos em que meu pai me
repreendia por algum motivo, eu rebatia suas acusações até deixá-lo tonto.
Então ele dizia que eu seria uma ótima advogada. Hoje quero ter equilíbrio para
entender que não sou dona da verdade e aceitar a opinião alheia com ponderação.
Se tem algo que me aborrece é a minha
teimosia. Desejo que as críticas destruidoras passem longe de mim para não
sacolejarem minhas emoções. Aprender a me perdoar também quero. Acredito que
seja a melhor maneira de arrancar as raízes da dor de dentro da gente. Se não
for pedir demais, gostaria de ser mais humilde e nunca, mas nunca mesmo, deixar
a vaidade se aproximar muito. A vaidade é o pecado preferido do diabo. Quero
pensar menos. Pensar é coisa muito perigosa e às vezes nos obriga a tomar
decisões que não queremos. Também
gostaria de viver uma religiosidade mansa, sem culpas ou medos. O que resta de
mim é uma mulher barulhenta que não sabe se comportar, fala o que pensa e paga
um alto preço por isso. Falar o que se
pensa nos abre algumas portas e fecha outras. Sou uma mulher com bom gosto, bom
senso, que não gosta de dias nublados e ama desafios. Que aplaude algumas
rebeldias, mas detesta conchavos de qualquer espécie. Eu já disse, estou
ficando meio chata. No momento, procuro a simplicidades das coisas, a essência
das pessoas e fujo de olhares que vigiam, punem e criticam. A curiosidade? Ah, essa está sempre pulsando
dentro de mim.
Ângela Sauthier
Dezembro/2015