segunda-feira, 26 de maio de 2014

PARA PATRÍCIA

Em 1963, sete governadores eram candidatos a presidentes da República. Como Leonel Brizola era um candidato eleitoralmente muito forte, os opositores criaram um veto: Ele não poderia se candidatar porque quem estava na presidência na ocasião era seu cunhado, João Goulart. Astuto, Brizola respondeu com o slogan: “cunhado não é parente”. Pela legislação brasileira, cunhado é parente por afinidade. Existem muitas crenças distorcidas à cerca de cunhados e cunhadas, ou sogros e sogras. A cultura popular instituiu algumas denominações meio grotescas sobre esse tipo de parentesco, até mesmo entrou no terreno do ridículo para representar as ligações engraçadas entre genros/noras e as respectivas sogras. Acredito que a sintonia que surge entre as pessoas não depende de parentesco algum. Eu tenho a sorte de ter uma cunhada. Uma única cunhada pelo fato de ter tido somente um irmão. Explico o porquê da sorte. Minha ligação com ela é muito mais que um parentesco. Já tentei entender essa nossa conexão tão perfeita e cheguei a algumas conclusões: Ela é apaixonada pelo meu irmão e construiu com ele uma família linda. Acima de tudo ela faz meu irmão feliz, e eu também amo meu irmão. Por esse gesto, bastaria eu ser agradecida a ela, eu sei. Mas eu não consigo ter apenas consideração por ela. É mais que isso. Ela é uma anfitriã perfeita, faz a gente sentir-se na própria casa e não mede esforços para inventar a cada dia uma novidade para que os momentos em que estejamos juntos não virem rotina. Poderia dizer que existem muitas pessoas que gostam de receber, mas nenhuma é como ela. Minha cunhada é dona de uma sensibilidade a toda prova. Preocupa-se com os problemas dos outros e assume as dores alheias como se fossem suas. Tem uma passagem na nossa vida que ficou armazenada dentro da minha alma: enquanto sua mãe estava hospitalizada e inconsciente, minha cunhada, dona de uma belíssima voz, cantava para ela. Do outro lado da rua se ouvia aquele canto de desalento. Deixou sua fragilidade de lado e com aquela voz doce encontrou a única forma de se comunicar com sua mãe e demonstrar todo o amor e gratidão que lhe dedicava até que a morte viesse ao seu encontro. Somente mulheres monstruosamente especiais são capazes de gestos como esse. E nos dias que teimam em amanhecer cinzas, eu recorro a minha cunhada para confessar minhas fraquezas. Com o coração aberto e a sabedoria na ponta da língua ela me diz que temos que nos reinventar todos os dias. Vaidosa, linda, extremamente charmosa, sempre com o astral bonito faz da vida uma festa. Quando tropeça em alguma fatalidade, torna-se uma guerreira imbatível capaz de transformar tudo sem hesitação, porém, com muita firmeza nos passos e delicadeza nos gestos. Por todas essas razões, quero discordar do Dr. Brizola e dizer que algumas cunhadas são muito mais que parentes. Patrícia é minha irmã, minha amiga, minha confidente. Sua abertura sincera para o afeto me emociona. Muitas vezes me ensinou, sem reservas que todas as formas danosas de agressão devem ser rebatidas com carinho. Pati, tua alegria é contagiante e minha admiração por ti é do tamanho do mar de Laguna. Te amo, guria. Maio/2014