domingo, 6 de dezembro de 2015

CARTA PARA MINHA AMIGA ALICINHA

Nos últimos dias, tenho pensado muito em ti, cara amiga! Embora os parentescos possam ser frequentemente descartados, te considero mais irmã do que amiga. Não dessas irmãs que disputam o melhor espaço ou que apenas usam o mesmo sobrenome. Irmãs de verdade, isso sim, carregadas de afeição. Sei que o que nos sustenta são as boas amizades, importante pois, cuidar bem delas. Muitos quilômetros nos distanciam, e, apesar disso, sempre estivemos bem próximas. Agora te sinto tão ausente, tão calada, tão soturna. Sei da carga de otimismo que sempre te acompanhou. Conheço tuas quedas, teus recomeços, tua vontade contagiosa de viver pacificamente, teu amor pujante pela família. Nossa sintonia faz eu pensar que nem tudo está bem contigo. Amiga, temos muito em comum: somos mulheres, esposas, somos mães... Ser mulher é uma barra, tu sabes. Como pertencemos ao grupo daquelas que abdicaram de um provedor para poder manter sua independência, trabalhamos em casa e fora dela, com a fúria de um temporal de inverno. Somos centralizadoras, barulhentas e pretensiosas. Só nós sabemos onde foi guardada a camisa branca do marido, a chave da lavanderia, o xampu que deveria estar na gaveta do banheiro. Só nós providenciamos outra faxineira quando Madalena nos deixa na mão na véspera do aniversário da filha. São prosaicas ocorrências do cotidiano que tiramos de letra. Sei que és uma mulher bem articulada e essas amenidades não te tirariam do centro. Mais um ano se passou e vivemos muitas coisas diferentes. Se algum infortúnio te tocou fundo a alma durante esse período, reage! Os dissabores contribuem para o nosso crescimento espiritual. Sem mágoas, sem frustrações, apenas evolução. O tempo, querida, trata uns melhor que os outros, mas, mesmo assim, nos torna mais profundas e contemplativas. Somos esposas e nossos companheiros são tão falíveis quanto nós. Sei que nem sempre estamos dispostas a suportar o rigor de suas críticas, no entanto, o cenário mórbido que se constrói com discussões vãs não beneficia ninguém. Somente formam feridas que demoram para cicatrizar. Temos que nos empenhar para evitar esses embates e, quando não conseguimos, devemos nos perdoar sem ter que pedir desculpas por sermos nós mesmas. Não esquece que as experiências nos tornam mais resistentes. Quanto aos filhos, minha amiga.... ah... os filhos! São cultivados como flores em estufas. Eles têm todos os motivos, todos os direitos, todas as necessidades. E nós, somente obrigações. Como todas as mães, apesar de imaculadas, carregamos a culpa pelas falhas. E não esqueça, eles nunca estão sozinhos. Fazem parte de uma sociedade degenerada e sonolenta que não nos poupa. Devemos ser para eles como a árvore que se curva gentilmente sobre as casas oferecendo sua sombra sem cobrar nada em troca. Não espere tanto deles. Eles são sempre uma surpresa para nós. Os ressentimentos precisam ser evitados para que outros males não se manifestem. É necessário nos encantarmos cada dia mais com a vida e termos na alma abundantes e generosos sentimentos, pois das dores do corpo, os remédios dão conta. E o resto, amiga, a gente inventa. Espero vê-la em breve. Manda notícia