domingo, 19 de janeiro de 2014

DE ONDE SURGEM AS AMIZADES

Tânia é de Alegrete. Para quem não conhece Alegrete, saiba que é o melhor lugar do mundo para se nascer e para se viver. Ela diz isso quase de joelhos. Veio para Santa Maria por exigência do destino. Sua filha passou no vestibular e Tânia não quis delegar para outros os cuidados com ela durante a faculdade. Coisas de mãe! Quem é nascida e criada aqui já está acostumada com a chegada de imigrantes temporários rumo à universidade. Mas ela jura que só veio por causa dos estudos da filha. Caso contrário, jamais deixaria o Alegrete. Nos primeiros tempos, todo final de semana Tânia viajava e só voltava na segunda-feira. Depois foi se ambientando, conhecendo gente nova, fazendo amizades e aos poucos foi se transferindo definitivamente para cá. Logo que chegou era séria e calada. Sentava em um canto na sala dos professores com certa reserva. Nosso primeiro contato foi casual e para falar dos maridos. As mulheres são experts nisso. Até hoje ela garante que eu não tinha demonstrado nenhuma simpatia por ela. Como é adepta à teoria de que estímulos negativos devem ser rebatidos, de mim se aproximou e puxou logo um assunto. Ela diz que eu a olhava com superioridade. Já tentei convencê-la de que estava errada, mas não adiantou. Fazer o que? Quem vem das proximidades do rio Ibirapuitã, tem essas manias. Deve ser herança portuguesa. Mas o tempo lhe mostrou o engano. Tânia já é um pouco santa-mariense, porém continua se exibindo com as pessoas ilustres de Alegrete como Mario Quintana, Oswaldo Aranha, Antônio Augusto Fagundes, Walmor Chagas, entre outros. O melhor pão é de lá. Ninguém assa uma carne como o alegretense. O pastel da rodoviária é inigualável. A frase “ah, mas em Alegrete não é assim” é a mais ouvida nos corredores. Fora esses detalhes comuns a quem deixa suas raízes em busca de novas oportunidades, minha amiga traz consigo características próprias de quem vêm de cidade do interior - é doce, leal e parceira. Disponível sempre que solicitada. Não mede esforços nem distância para atender a um pedido da gente. Encontra sempre soluções simples para problemas complexos. Dificilmente ela sai do tom, mas quando isso acontece, as paredes do colégio balançam. Divertida, brincalhona, responsável, cúmplice e acima de tudo, uma grande guerreira. Eu acredito que a amizade é um amor assexuado que une pessoas através de fortes laços de companheirismo e empatia. Tem quem diga que amizade só se faz na infância. Eu já começo a duvidar disso. Janeiro/2014