sábado, 10 de agosto de 2013

SAUDADES DE MEU PAI

     Meu pai era um homem honesto. Simples como os canteiros de rúcula que ele semeava nas manhãs frias de maio. Despretensioso como os pés de pimenta que derramavam seus frutos rentes ao muro que separava a casa de sua horta que ele cuidava com tanto esmero.
    Calado, sensível, submisso e reflexivo achava que ser humilde era normal. Meu pai era um homem humilde. Ele não tinha ideia da dimensão de sua humildade. Suas angústias, medos e ansiedades eram chaveados juntamente com seus documentos mais importantes dentro de um cofre verde-musgo que ficava num canto do quarto que ainda abrigava os móveis do tempo de seu casamento. O segredo do cofre era dele. Somente ele conhecia.
    Os livros pouco lhe ensinaram, mas fazia bem feito tudo o que aprendera. Era um pai presente. Não daqueles que segurava a filha pela cintura, cobria-lhe de beijos e penteava seus cabelos. Para quem nasceu na segunda metade do século XX, esse tipo de amor paterno só existia nas histórias infantis. O dele era um amor com reservas, porém a sua figura frente ao fogão a lenha com a família reunida nas noites chuvosas era suficiente para que nos sentíssemos seguros.
    Meu pai era econômico nas palavras e cerimonioso nas atitudes. Talvez pelo receio de passar do limite imposto pela sua humildade excessiva. Quando dele precisávamos, ele olhava diretamente nos nossos olhos oferecendo ajuda. Esse gesto nos garantia um amor grandioso.
    A docilidade de seu caráter e a firmeza de sua postura nos ensinou que somente chegaremos à reta final vencendo as barreiras sem seguir os atalhos.
    Amanhã é dia dos pais. Lembrei-me dele com muita saudade.