sábado, 9 de maio de 2015

MATERNIDADE

Este ano quero um dia das mães diferente. Sem botas de presente, sem cartão, sem rosas no supermercado, sem abraços prolongados e frases prontas. Sem almoço em família com sobremesa hipercalórica. Sou mãe de três arrojados, inteligentes e charmosos filhos. Toda mãe tem filhos admiráveis, eu acho. Amamentei, levei-os no pediatra, na pracinha. Depois na escola, no judô, na natação, no ballet, no basquete, no teclado.... ufa! Fui buscá-los de madrugada nas baladas, nos shows, na volta de excursões, na casa de amigos. Acompanhei-os no vestibular, esperei por eles, torci por eles, vibrei e chorei com eles. Levei-os na faculdade, na biblioteca, no xerox. Função nossa de cada dia. Não fui a mãe ideal. Fui a mãe possível na complexa relação que se estabelece entre pais e filhos. E dentro das minhas possibilidades, fiz o máximo que podia. Fui me debruçando sobre suas inquietudes, me despindo do comodismo, arregaçando as mangas e a alma, me transformando em várias, em múltiplas. Estive permanentemente exposta à transgressão da educação informal, mas nunca me rendi. Nas épocas de turbulências, fui incansavelmente cúmplice. Dentro de cada mãe existe uma força medonha que nasce exatamente quando descobrimos que estamos grávidas. O tamanho dela é proporcional à necessidade de cada filho. Essa energia é capaz de fazer a gente esquecer a fome, o sono, a dor e aprender a conviver com o coração apertado de medo, de preocupação e de angústia. Fui mais autoritária do que permissiva. Não tenho a personalidade macia. Centralizadora sim, não nego. É minha forma de amar. Sofro no paraíso como todas as mães. Carrego comigo aquele sentimento de culpa que todas nós trazemos no peito. Na condição de mães, lançamos uma sementinha na terra, regamos, adubamos e esperamos que ela cresça. A boa e bem cuidada semente um dia germina e dá bons frutos. E os meu três arrojados, inteligentes e charmosos filhos desabrocharam para a vida de uma forma estonteante. Já me deram muitos motivos para chorar de alegria, de emoção e de orgulho. O que mais deseja uma mãe a não ser que seus filhos tenham coragem, amor, compaixão e sabedoria para aliviar de uma maneira ou de outra a dor de seus semelhantes? Não precisam ter feeling para o sucesso. A felicidade chega de outras formas. Vem um tempo em que eles começam a clamar por liberdade. Vão ficando independentes de nós e nós vamos ficando órfãs deles. Por isso, nesse domingo, vou dispensar os presentes, o almoço especial e os mimos. Quero apenas agradecer pela minha farta colheita. Quero me emocionar com suas presenças costumeiras. Quero poder abraçá-los e pedir perdão pelos meus desacertos. E dizer-lhes que trago junto de mim uma carga de saudade porque coração de mãe nunca se aposenta. MAIO/2015