sábado, 23 de fevereiro de 2013

VESTIDO PROIBIDO

                    

      Aconteceu em Dezembro. Uma amiga, daquelas que fazemos na infância e que nos acompanha a vida toda, lamentou-se que na noite anterior teve que trocar seu vestido poucos minutos antes de ir a um casamento porque o marido achou o modelo muito ousado para a cerimônia. Prática comum entre muitas mulheres é concordar sem contestar para não criar um clima ruim na hora da festa. Mas que raiva. Dela. Minha bela e inteligente amiga gasta duas ou três tardes de folga a procura de um vestido que lhe favoreça, investe um dinheiro que talvez não fosse para esse fim, escolhe um sapato salto doze, muda a cor do cabelo, compra acessórios apropriados para o tal vestido e depois joga tudo isso no lixo porque o marido sentiu-se inseguro? Inseguro sim. Com o comprimento, com a cor, com o decote ou com o que os outros poderiam pensar dela, sua esposa. Lembrei-me da mulher do Imperador Romano, Júlio César. Pompeia, após ter sido acusada de adúltera e assim mesmo ter sido defendida pelo próprio marido, perguntou-lhe por que a tratava com indiferença se ele mesmo a teria inocentado nos tribunais? No que ele lhe respondeu: não basta que a mulher de César seja honrada, ela não pode sequer ser suspeita. Imagino que o  vestido de minha amiga causava suspeita. Tentei argumentar dizendo que cada uma de nós tem seu estilo, que aquele vestido teria valorizado seu corpo, que era de uma grife famosa. Mas ela foi condescendente com o marido. Ficou triste sim, mas não quis desapontá-lo. Melhor sem brigas.
       Todas nós temos um toque de requinte que homem nenhum apaga, por mais inseguro e ciumento que ele possa ser e isso não nos impede de sermos honestas. Pena que algumas mulheres não têm determinação suficiente para usar o vestido que escolheram. Bem produzidas somos capazes de ofuscar o mau humor de qualquer marido ciumento, principalmente se ele não for imperador.Esqueci de perguntar a minha amiga o que ela fez com o vestido inapropriado para um casamento.
  

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

HOMENS QUE AMAM DEMAIS

         A Revista Cláudia do mês de fevereiro traz uma reportagem sobre homens que sofrem muito por amor. Não se escandalizem, é verdade. Dizem que eles existem. Na classificação psiquiátrica são denominados de hades e são considerados românticos patológicos. São homens que vivem dolorosas histórias de submissão e humilhação em seus relacionamentos amorosos. Segundo a reportagem, eles possuem a autoestima baixa e por consequência se apoiam em suas parceiras, depositando nelas todas suas expectativas, tornando-se dependentes emocionais. Os hades são humilhados, sofrem, se culpam e justificam sempre as atitudes da amada.
     A repórter Maria Laura Neves entrevistou um deles. É inacreditável. Exageros a parte, mas o cara apanhava da mulher! "Quando ficava nervosa ela me dava tapas", relata o moço. Como o convívio foi ficando insuportável, ele saiu de casa. Recuperou-se. Teve um segundo relacionamento. Dessa vez foi traído quando ela viajou para o exterior. Perdoou. Ela o traiu novamente. Ele descobriu e perdoou outra vez desde que ela voltasse para casa. Não que eu queira misturar as questões de gênero, mas parece  que os personagens dessa narrativa estão fora de lugar. Woody Allen invejaria esse enredo. É patológico, sem dúvida e o número de homens vitimados por esse mal deve ser insignificante, um ou outro exemplar.É uma espécie rara.
         Por outro lado as mulheres...ah, as mulheres. Milhares delas são insultadas pelos maridos, muitas vezes submetidas a agressões sutis em suas próprias alcovas, a traições rotineiras e continuam a amá-los e a perdoá-los, se é que isso é possível. Outras são assassinadas por ex-companheiros que não suportaram a ideia de uma separação. 
      É sabido que assédios psicológicos, autoritarismo, poder econômico, agressões físicas e verbais permeiam a rotina de um número expressivo de mulheres de todas as camadas sociais e culturais desde sempre. Isso não significa que sejam mulheres que amem demais. Enquanto que homens serem humilhados e agredidos  por mulheres provoca um estranhamento tão grande que até merecem uma reportagem de quatro página com direito a fotos e tudo mais em uma revista de grande circulação nacional.
      Quem sabe o cantor Ira estava se sentindo um hade quando compôs a letra da música Girassol " Tento me erguer as próprias custas e caio sempre nos seus braços, um pobre diabo é o que sou...um girassol sem sol..."