quinta-feira, 9 de maio de 2013

EM TORNO DE UM CORAÇÃO




         Ela sabia que a chegada daquele homem em sua casa naquela noite de silêncio estrelado não era uma coisa banal. Era uma mulher experiente com as coisas do coração. Já tivera dois casamentos e algumas paixões. Umas sem sentido, outras enlouquecedoras. Agora, ali em frente ao homem de terno azul  teve receio de sucumbir. Ela sabe que os sentimentos não são eternos, mas estava órfã de carinhos. E ele ali, na sua frente, com aquele olhar arrebatador fazia salivar seus sentidos. Não poderia ser assim. Ele deveria chegar devagarinho, atento a todos os detalhes. Uma pessoa não pode invadir uma vida de maneira desatenta. Tem que ter cuidado, delicadeza, cautela. Passar da soleira da porta é algo mais grave. Exige precaução, cumplicidade, admiração. Conhecer sua intimidade é ocupar outros espaços que nem sempre estão vazios completamente. Mas ela, inadvertidamente foi permitindo que ele fosse abrindo gavetas e janelas. Pouco depois, eles já estavam no jardim conversando como velhos conhecidos. E como ela havia pressentido, esse encontro não seria em vão. As mulheres sabem das coisas, reconhecem um olhar perturbador, uma palavra que toca a alma e mexe com os sentidos. Tarde demais. Não tem como retroceder. E se ela olhasse em volta perceberia o vento balançando os galhos das árvores numa cumplicidade latejante.

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