domingo, 3 de abril de 2016

SIMPLES ASSIM

Por força do ofício, eu transito por entre adolescentes e jovens diariamente.   Compartilhamos manhãs, tardes ou noites inteiras num entrosamento às vezes bonito, outras vezes nem tanto, mas sempre melhor do que era há algum tempo em que não tínhamos com eles intimidade alguma. Havia um afastamento respeitoso e formal que, de alguma maneira, os deixava subjugados a nós e a espontaneidade de suas atitudes ficava mascarada em função da necessidade de corresponderem ao que esperávamos deles. Hoje, apesar de tudo o que se comenta sobre a ausência de limites ou sobre a relutância no cumprimento de regras estabelecidas, eu considero a convivência com os jovens bem mais emocionante e positiva. Os meninos e meninas mudaram muito. Gosto mais deles agora. São espontâneos, sinceros, menos preconceituosos, salvo algum perdido que ainda carrega consigo um ranço do conservadorismo. Os corredores das escolas estão repletos de loiros encaracolados, morenas de cabelo liso- Cleópatra, camisetas coloridas, meninos com rabo de cavalo amarrado com fita rosa-choque, meninas com cabelos raspados. São verdadeiros. Tanto que sem nenhum pudor desfilam com sua cara-metade de mãos dadas, mesmo que pertençam ao mesmo sexo. Admiro essa ousadia, essa coragem de quebrar paradigmas. São bem resolvidos, bem articulados e ao mesmo tempo, vulneráveis como o voo de uma borboleta. São pragmáticos e não hesitam em demonstrar seus sentimentos através de uma carícia no cabelo, na mão, no rosto. Saboreio essa mentirosa rebeldia que os acompanha e respeito essas ligações que o adestramento social considera transgressoras. Sexos opostos continuam se atraindo, porém cada vez mais observo meninas ficando com outras meninas numa relação doce e afetuosa sem parecer que estão carregando o peso do mundo sobre seus ombros.  Cada vez mais vejo homens dividindo uma mesa de bar e também trocando olhares de quem quer apanhar a fruta madura da árvore. Atualmente a linha que separa os anseios de homens e de mulheres está ficando invisível. Nossos jovens não aceitam mais ter que reprimir aspectos de suas personalidades para agradar a uma sociedade excludente por natureza. E a autenticidade deles me comove e faz com que eu passe a refletir em relação a alguns conceitos que eu tinha como verdadeiros. Assim, como a florada dos ipês anunciam a primavera, essa realidade está anunciando que muito em breve as pessoas poderão vir a escolher seus parceiros pelo cheiro, pela troca de palavras doces, pelo olhar arrebatador, pelo acolhimento de suas almas. A distinção entre macho e fêmea cairá por terra. Os mais conservadores, aqueles que têm sempre razão, enfim, o soldado do passo certo tem que aprender a amenizar esse olhar de estrangeiro que lhe persegue. Sem julgamentos. E, com a contribuição de Eclesiastes 3 “Todos vão para um lugar; todos são pó, e todos ao pó tornarão” reconheço que é simples assim, pois é coisa de Deus. Um dia desses, durante uma aula de literatura, mostrei a eles um exemplo de texto pequeno no tamanho, mas forte no sentido e   que reforça o contexto atual: Amem. Amém.

Ângela Maria Lorenzoni Sauthier- Abril/2016




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