terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A MAIOR DOR DO MUNDO

Os ritos de passagem sempre marcaram intensamente a vida das pessoas. Nascimento, casamento, formatura e a morte assustadora. Morrer faz parte da normalidade da vida, reafirmado pelo clichê que ninguém nasceu para semente. O falecimento de alguém é uma passagem que provoca transformações dolorosas e viscerais em quem fica. Entretanto, nada é mais perverso do que a morte prematura, sem aviso, sem anúncio, sem tempo para uma preparação complacente, como se isso fosse possível. É lancinante. O Papa Francisco ao ser questionado sobre o sofrimento de crianças inocentes, não encontrou qualquer explicação teológica convincente e disse que quando se encontra perante estas situações, só lhe ocorre perguntar “Por que, meu Deus?”. Então Senhor, conceda-me o benefício da dúvida: por que permitir que uma mãe passe pelo supremo sofrimento de enterrar uma filha cheia de juventude, de sonhos, de desejos? Por que deixar essa dor desmedida infiltrar-se em todas as suas artérias? Eu quero entender os misteriosos desígnios divinos. A minha fé precisa desse entendimento. Quem deu a vida não poderia ver essa vida esvair-se. Tenho consciência da nossa finitude, mas absolutamente não nessa ordem. Ter um filho é um longo tempo de espera, é acompanhar sua trajetória etapa por etapa, é sofrer suas dores e regalar-se com suas conquistas. Cortar abruptamente o elo que prende uma mãe a um filho deveria ser pecado. O estrago emocional que essa ruptura causa é imensurável, indescritível, irreparável. Pedaços da alma são jogados ao vento, o coração transborda de infortúnios, o corpo padece. Preciso entender por que nosso pai maior permite que uma mãe sofra a dor da perda em seu mais alto grau. Que seu flagelo seja tão intenso que sequer possa ser verbalizado. Que sinta todo o desalento e toda a paixão de que um coração de mãe é capaz. Que de repente seu mundo desabe num tempo feio. Que seus dias se tornem pálidos, opacos e vazios. Bom seria se estivéssemos cercados por jardins floridos, margens de rios e praias desertas. Eis o que se espera de um pai bondoso. Rasteiras e surpresas insólitas são inaceitáveis. Afinal a vida não é um guarda- roupa que se muda toda hora. Então, por que, meu Deus, por quê? Minha compreensão é bastante limitada.

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