“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”....
Este verso da música Roda Viva de Chico Buarque de Holanda parece ser a
fotografia da alma em decomposição. Como
alguém consegue traduzir em palavras tamanha tristeza? É um momento de extrema magia. Desde os tempos de Aristóteles,
os melancólicos eram conhecidos como pessoas geniais, pois escreviam, pintavam
e compunham admiravelmente. E justamente
nos momentos de maior aflição realizavam suas melhores produções.
Somos frágeis, imensamente frágeis. Fugimos
das frustrações porque não sabemos como
lidar com elas. As pequenas são mais fáceis de serem contornadas. Uns vão
extravasar suas aflições na música, na dança, na escrita, nos medicamentos, no
álcool. Seria tão simples se entendêssemos que nem todos os nossos desejos
podem ser satisfeitos e que as frustrações são parte inerente da vida adulta.
No entanto, perdemos muito tempo procurando culpados para os nossos fracassos.
A excessiva sensibilidade e a incapacidade de suportar
momentos de tristeza é uma porta aberta para o sofrimento. Viramos as costas
para a dor, principalmente a dor na alma. No entanto sentir tristeza é inevitável. Todos
nós em algum momento da vida passaremos pelo estado de abatimento, melancolia,
erros, fracassos, dor e angústia.
Desde que nascemos começamos a sustentar nossas
inquietações, nossos desejos inconfessos, algum sofrimento silencioso, outros
nem tanto. Com o passar do tempo passaremos a tratar uma decepção como se fosse
um sequestro relâmpago que nos assusta inicialmente, mas depois cai no
esquecimento. O tempo é responsável por
isso.
Sentir-se como quem partiu ou morreu é o nada, é
o vazio, é a ausência de tudo. É a falta de ânimo, de vigor, de perspectiva, de
planos, de sonhos. Como tudo, a tristeza também é passageira. Alguns dias,
acordamos com o sol batendo em nossa janela. Outros, nem sentimos vontade de
sair da cama. Mesmo assim, maquiamos nosso desalento e seguimos em frente. C'est la vie.
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