Enquanto fingia comer um doce de morangos, ela ocultava as
lágrimas segurando o rosto com a mão esquerda. Vez por outra olhava em volta
para se certificar de que ninguém a observava. Impossível não vê-la. Era uma
mulher de traços marcantes, bem vestida, usava sapatos de salto alto e tinha
uma flor pequena tatuada no ombro direito. Ocupava uma mesa central de uma
confeitaria no centro da cidade. Estava só, irremediavelmente só, com sua dor
estampada no rosto. Disfarçava o pranto incontido procurando algo na bolsa de
couro marrom. Homens e mulheres passavam por ela, ocupavam cadeiras próximas a
sua e não percebiam seu sofrimento. Ninguém mais tem tempo para olhar quem está
ao seu lado. Estamos sempre com pressa, atrasados e ocupadíssimos. Uma parada
para um café é o tempo máximo que dispomos numa tarde de segunda feira.
Fiquei a
observá-la de longe. Não a conhecia. É engraçado como encontramos algumas
pessoas repetidas vezes e, sobre elas nada sabemos. No entanto, ela era para mim
uma ilustre desconhecida. Talvez nem morasse
na cidade e aqui estivesse somente de passagem. Pensei em abordá-la, oferecer
ajuda, perguntar se queria que eu a ouvisse, mas decidi não me arriscar. Ela poderia entender essa atitude como uma
invasão da sua intimidade. Às vezes usava um lenço para limpar a maquiagem borrada pelas lágrimas. Discretamente
ela olhava em volta para se certificar de que ninguém tinha prestado atenção
nela. Passei a imaginar diferentes causas para aquela tristeza. Um problema de
saúde chegado de surpresa, uma decepção com a melhor amiga, o final de um
relacionamento? Poderia também não ser
nada tão sério. Muitas vezes somos
surpreendidos por momentos de extrema fragilidade que nos derrubam e nos fazem
chorar em público. Sabemos o que vale e o que não vale a pena nessa vida, por
isso nossa sensibilidade, às vezes, deselegantemente extrapola seus limites. Então,
a bela mulher se dirigiu até o caixa, pagou e se retirou sem olhar para trás.
Nunca mais a vi. Em mim ficou uma sensação de vazio, de omissão, de
desumanidade. E daí se ela tivesse me dito para deixá-la sozinha, que era um
problema particular dela e que não estaria disposta a dividir comigo? Tudo bem,
nada que eu não pudesse entender. E se minha ajuda fosse bem-vinda? E se ela
precisasse apenas ser ouvida? Odiei o
meu egoísmo, a minha falta de solidariedade e a minha indiferença pela dor da
desconhecida.
É preciso
prestar mais atenção nas pessoas. É preciso fugir da tirania da pressa. O
automatismo que caracteriza nossa época está nos deixando muito insensíveis. A
cumplicidade entre as pessoas é a melhor forma de demonstrar afeto. Quero
aprender a valorizar mais o ser humano e apostar menos nas coisas. Torço para
que a vida daquela mulher tenha se tornado mais doce e que ela tenha
sobrevivido àquele momento doloroso.
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