Sou deslumbrada por saltos altos desde pequena. Não é à toa. Nasci em
uma noite de carnaval, quando beldades com suas fantasias faustosas desfilavam
na avenida. E toda aquela pomposidade lá instalada clamava por saltos generosos.
Não consigo imaginar uma rainha de bateria usando rasteirinha. Seria muito
aborrecido. Também não acredito que Cinderela fisgou o seu príncipe encantado
pela cor de seus olhos. Foi o sapatinho de cristal salto 15 que fez o príncipe bater
de porta em porta a procura da dona. Homens e mulheres usam saltos desde há
muito tempo. Reza a lenda que na Idade Média os sapatos com solado de madeira tinham
a finalidade de afastar os pés da sujeira das ruas. Os açougueiros do antigo
Egito usavam saltos para se protegerem do sangue dos animais. Até então, esse
tipo de calçado não era visto como fetiche, mas sim como necessidade. Com o
teatro grego e romano, o salto começou a indicar status social. Os atores
calçavam sandálias de plataforma, e quanto mais alta, mais importante era o
personagem. Lindo de se ver eram as cortesãs chinesas com seus tamancos de 30
cm de altura provocando nos homens os mais inconfessos desejos. Uma lei promulgada
pelo parlamento inglês do século XV decretava: “Toda mulher que seduzir um
homem para que ele se case com ela utilizando-se de sapatos de salto alto, será
castigada com as penas de bruxaria”. Quem prefere calçados baixos que me
perdoe, mas o imaginário social possui uma estreita relação de sedução com o
salto alto. Haja vista a expressão “sobe no salto, amiga” quando uma mulher
precisa mostrar atitude. Há milênios, o salto faz a cabeça e os pés de muitas
mulheres e de homens também. Freud, conhecedor da alma humana, afirmou que as
mulheres não imaginam o poder de sedução e controle que o salto provoca nos
homens. Embora considerado para muitos como um desperdício burguês, esse
artifício carrega o nosso estado de espírito e transforma o visual, valorizando
até um jeans surrado. Considero-o uma peça indispensável, para não dizer a mais
importante do guarda-roupa de toda mulher. Podemos até não usá-los todos os
dias, mas sempre que quisermos marcar presença em algum acontecimento, lançamos
mão do que se tornou o ícone do imaginário feminino, um bom salto alto.
Ângela Maria Lorenzoni Sauthier – Fevereiro/2016
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