quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

DENÚNCIA DE RACISMO

DISCRIMINAÇÃO RACIAL OU SOCIAL?

O incidente ocorrido em uma concessionária da BMW no Rio de Janeiro nos primeiros dias do ano está circulando nas redes sociais e causando grande comoção a todos. O fato foi uma evidente discriminação em relação a um garoto de 7 anos, filho adotivo de um casal que aparentemente pertence a uma classe social privilegiada, uma vez que não é qualquer trabalhador que pode comprar um carro dessa marca. O vendedor da loja, não sabendo que o menino que estava olhando televisão era filho do casal, pediu para  que ele se retirasse do ambiente e justificou a  seus pais que essas crianças costumam pedir dinheiro, atrapalhando assim os clientes. O casal, estarrecido com tamanha brutalidade, enviou um e-mail para a concessionária relatando o episódio, e, uma semana depois recebeu um pedido de desculpas e uma alegação de que tudo foi um mal entendido.
Eu fico me questionando se a repercussão que teve esse fato teria tido a mesma intensidade se os personagens fossem outros. Se aquele menino negro de 7 anos não fosse filho de uma família rica e sim um menor de rua, a reação daquele casal teria sido a mesma? Será que as pessoas teriam se indignado e denunciado o vendedor? Quantas vezes situações como essa se repentem em nossas ruas, nos estabelecimentos comerciais, nos restaurantes sem causar estranheza a ninguém! Desse modo, não estamos tratando de uma discriminação racial e sim de uma discriminação social, uma vez que é sabido que a cor da pele deixa de ter relevância se a pessoa tem dinheiro. Ser rico é passaporte para a aceitação social. O que causou revolta não foi o fato de uma criança negra ter sido excluída de um ambiente comercial, mas a situação de um menino negro, filho de pais abastados ter sido confundido com uma criança de rua pela sua condição de ser negra. A família do menino se revoltou e com toda razão, tanto que criou uma página no facebook para denunciar o caso. Mas o que seria realmente magnífico e civilizado se as pessoas denunciassem todo e qualquer tipo de discriminação com crianças de todas as cores e de todas as classes sociais. Caso contrário estaremos todos mergulhados numa grande farsa.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

SUGESTÃO DE LEITURA 2




ANA TERRA - Érico Veríssimo
                                                                                                                                                                     



Ana Terra é o primeiro capítulo de "O Tempo e o Vento", obra prima do escritor gaúcho Érico Veríssimo e possivelmente o mais importante romance histórico brasileiro. Composto por três livros, "O Continente" "O Retrato" e "O Arquipélago" foram publicados entre 1945 a 1961 com um relato de mais de duas mil páginas. O Continente tem a duração de 150 anos, iniciando com o episódio nas Missões Jesuíticas em 1745 e terminando com o fim do cerco ao sobrado dos Cambará em 1895. Continente significa território conquistado a ferro e fogo. Tempo está associado aos homens, à medida que eles relacionam o trabalho daquele com a violência das guerras (passagem, destruição, morte). Vento está associado às mulheres porque essas representam a resistência humana contra as guerras e o instinto de morte (repetição, continuidade, permanência). A personagem Ana Terre adquiriu tanta importância que se tornou um romance à parte. Vivendo num fim de mundo com disputas de terras e fronteiras, ouvindo a voz do vento, no meio da brutalidade masculina, Ana cresce, trabalha, ama e sofre. O saber ler na época era sempre desvalorizado pelos homens e apreciado pelas mulheres. Ana achava bonito receber cartas, o que só ocorria nas cidades, mas seu pai, Maneco Terra afirmava: "carta não engorda ninguém" colocando todas sua força patriarcal na defesa das atividades primárias. Ele se orgulhava de não saber ler a carta de recomendação que Pedro lhe entregara. Ana também foi facilmente presa da música da flauta na qual Pedro colocava toda sua tristeza e infelicidade de desgarrado. Ao contar as histórias lendárias, ele prendia a atenção feminina. Isso tudo tornava o índio um enigma para Ana que não sabia lidar com um homem tão diferente que não pertencia ao mundo masculino que ela conhecia. Seu erotismo aumentado pela solidão fez com que Ana se entregasse a Pedro Missioneiro. A forma como Ana reagiu à violência do estupro dos castelhanos  aponta para uma crença absurda na vida. Poucas mulheres foram tão fortes, guerreiras e obstinadas quanto Ana Terra, numa época em que só o fato de ser mulher já era um fardo insuportável. Ela representa o início de tudo: gerou o primeiro rio-grandense, Pedro, ajudou a fundar a primeira vila, Santa Fé. Resistindo a toda espécie de violência, Ana Terra, a matriarca da família Terra Cambará tornou-se o símbolo da mulher rio-grandense.